segunda-feira, 18 de maio de 2009

O surgimento das cooperativas e a Revolução Industrial

O cooperativismo é um sistema econômico que faz de uma sociedade de pessoas constituídas para prestar serviços a seus associados (a cooperativa) a base de todas as atividades de produção e distribuição de riquezas. A história do movimento cooperativista registra que, no dia 21 de dezembro de 1844, nos arredores da cidade de Manchester, Inglaterra, 28 operários – 27 homens e uma mulher – se associaram com o objetivo de adquirir itens de primeira necessidade, principalmente alimentos, para serem consumidos a preços mais baratos.

Nascia, ali, a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale, a primeira cooperativa da história, formada com o investimento de uma libra por cada um dos 28 operários. Em um ano, o capital da organização chegou a 180 libras e, passada uma década, a associação já contava com 1.400 associados.
Após o sucesso da experiência de Rochdale, o cooperativismo rompeu as fronteiras da Inglaterra e chegou à França, onde foram criadas cooperativas de trabalho, e à Alemanha e Itália, onde foram constituídas cooperativas de crédito. Em 1881, já existiam 1.000 cooperativas espalhadas pelos cinco continentes, totalizando 550 mil associados.
Os princípios que orientaram o Estatuto Social da Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale definiram normas igualitárias e democráticas para a constituição, manutenção e expansão de uma cooperativa de trabalhadores. Até hoje, esses elementos são considerados a base do autêntico cooperativismo.
A identidade de propósitos e interesses; ações conjuntas, voluntárias e objetivas para a coordenação de contribuição e serviços; a obtenção de resultado útil e comum a todos são consideradas premissas do cooperativismo. Até recentemente, as cooperativas eram utilizadas, com segurança, apenas nas modalidades de produção, crédito e consumo.
A partir da década de 1960, o cooperativismo voltado para a prestação de serviços passou a se destacar na economia mundial e, hoje, sobressai como o segmento de mercado que mais estimula a geração de postos de trabalho. Dentre os principais segmentos do cooperativismo brasileiro, é possível destacar os de consumo, agropecuária, crédito rural e urbano, eletrificação, telefonia, desenvolvimento rural, trabalho, ensino, habitação, mineração, produção, saúde, transportes, artesanato.
Fruto da Revolução Industrial
A espécie humana sempre teve como um de seus projetos mais acalentados dominar as forças da natureza. O domínio do fogo e a manipulação de técnicas agrícolas, de artesanato e manufatura são etapas que traduzem diferentes momentos desse desejo ancestral. Nenhuma dessas conquistas, no entanto, foi tão radical e alterou tão profundamente as formas de viver, produzir e pensar quanto a introdução de máquinas na atividade econômica
A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII pela Inglaterra, não inventou a máquina, mas deu origem a uma série de progressos técnicos balizadores do modo de produção fabril. A classe operária inglesa, por sua vez, se formou ao longo dos séculos XVIII e XIX, na medida em que avançava o processo de transformação radical do trabalho introduzido pela Revolução Industrial.
Grande parte dessa mão-de-obra demandada pelo sistema fabril de produção era formada por antigos camponeses – pequenos proprietários agrários ou servos, expropriados ou expulsos de suas terras – e por artesãos privados de seus instrumentos de trabalho.
A partir de uma estratégia política de intervenção direta na estrutura social e econômica, a Inglaterra ampliou os cercamentos (Enclousure Acts, ou seja, os Decretos das Cercas) nas áreas rurais. Essa medida foi inspirada nos interesses da burguesia industrial e teve como efeito desarticular as formas não-comerciais de vida no interior.
Por outro lado, o advento da legislação dos cercamentos dinamizou a economia rural ao manter apenas os empreendimentos capitalistas de maior porte, capitalizados, criando, entretanto, um contingente expressivo de desempregados. Expulsos do campo, a esses lavradores só restava migrar para as cidades e se entregar às precárias condições de trabalhos nas indústrias.
Em 1799, a Inglaterra proibiu qualquer tipo de organização operária por meio dos Combination Acts. As leis anti-sindicais foram promulgadas em plena Revolução Industrial, mas foram sendo derrotadas pelas greves e lutas operárias, culminando, em 1825, com a revogação dos Combination Acts.
Em 1836, o autor inglês P. Gaskell informava que “mais de um milhão de seres humanos estão realmente morrendo de fome, e esse número aumenta constantemente... É uma nova era na história que um comércio ativo e próspero seja índice não de melhoramento da situação das classes trabalhadoras, mas sim de sua pobreza e desagregação: é a era a que chegou a Grã-Bretanha”.
Autores como Charles Dickens (1812-1870) denunciaram as condições desumanas a que estavam sujeitos operários, mulheres e crianças nos primeiros tempos que se seguiram à Revolução Industrial por meio dos romances Oliver Twist e David Copperfield.
As extensas jornadas de trabalho se estendiam por 12 a 16 horas diárias, sem direito a férias ou feriados. Acidentes ocorriam com freqüência, devido aos curtos períodos de descanso. Para atender os casos de acidente de trabalho, doenças ou mesmo de desemprego, os operários criaram, a partir do início do século XIX, associações de auxílio mútuo, que funcionam por meio de cotizações. Em 1833, a Inglaterra começou a assistir a uma onda de organização de sindicatos de base local ou por ofício.
As primeiras formas de solidariedade operária estão associadas à prática cotidiana nas fábricas. Naquela que é considerada a primeira greve de operários fabris, a dos fiadores de algodão de Manchester (1810), vários milhares de homens distribuíram, entre si, o fundo de greve que chegou a 1.500 libras por semana.
A “marcha da fome” sobre Londres (de 1817) e o comício de Saint Peter’s Field, em 1819, este último reunindo o expressivo e inusitado contingente de 80 mil pessoas, são exemplos do nível da atividade operária à época. O Exército atacou os manifestantes, fazendo centenas de vítimas no campo de Peterloo.
Na década de 1840, depois do fracasso dos socialistas na tentativa de estabelecer um novo modelo de sociedade, o movimento operário perdeu seu vigor por cerca de 50 anos. Papel fundamental nesse período foi desempenhado pelo movimento cooperativo, que nasceu em Manchester.
Atualmente, só nos Estados Unidos há mais de 150 milhões de pessoas que participam de cooperativas. Na Alemanha, 80% dos agricultores e 75% dos comerciantes estão organizados nesse tipo de associação.
Em condições normais, as cooperativas deveriam apresentar balanços anuais sem sobras de recursos, uma vez que se trata de empresas sem fins lucrativos e, assim, eventuais sobras deveriam ser distribuídas entre os associados. No entanto, as exigências decorrentes da competição em um mercado cada vez mais dinâmico e em crescimento contínuo têm levado as cooperativas a um esforço de adaptação, que acaba refletindo em sua própria estrutura.
Nas últimas décadas, pressionadas pela necessidade de crescimento, a empresa cooperativa tem buscado alcançar níveis elevados de administração e gerenciamento, o que traz prejuízos ao seu caráter essencialmente assistencialista.
Por Jorge Frederico - Agência SENADO

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